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StartApps

Um blog de Teresa Noronha sobre Startups, Apps e empreendedorismo em português.

À conversa com #9: EatTasty

A EatTasty tem um conceito de criar receitas por um chef Rúben Couto de excelência, produzir comida em casa por cooks do Bairro que entregam comida caseira e quente aos clientes finais, por drivers simpáticos e que gostam do que estão a fazer. Um negócio bonito, dizem eles, com uma forte componente de integração Social.

Estive à conversa com eles, no seu local de trabalho atual, a Bright Pixel, incubadora do Grupo Sonae.

 

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Fotografia Andreia Trindade

 

Como é que tudo começou?

Eu (Orlando) e o Rui trabalhávamos juntos na BySide, mas já nos conhecíamos antes. Tínhamos discussões correntes sobre negócios. Isto surge uma vez num jantar num restaurante no Porto, que é barato e a comida é caseira. O Restaurante chama-se “Sai Cão”. Nós estávamos lá a jantar num dia de semana e começamos a questionar o porquê de as pessoas estarem lá. Começamos a deduzir que provavelmente as pessoas estariam lá pelo prazer de estarem a comer comida caseira sem cozinhar e estavam lá porque não tinham alternativa para o estarem a fazer em casa. Reparamos numa família em particular que estava lá mesmo só para comer, não estavam a falar ou a partilhar um momento uma conversa. Nós começamos a pensar qual seria a forma possível de disponibilizar a experiência de um restaurante caseiro, em casa das pessoas. Criamos então este modelo de comer comida caseira sem cozinhar.

 

Qual é que foi o caminho que fizeram até aqui?

Pesquisamos muito, estudamos a valer, aplicamos todos os modelos que existem. Identificamos as nossas falhas, depois começamos a falar com os investidores. Quando começamos a falar com os investidores percebemos que apesar do estudo e dos modelos não tínhamos a resposta para a maioria das perguntas que nos eram colocadas. Depois fomos evoluindo e o número de perguntas sem resposta foi diminuindo. Fomos pesquisando ainda mais, falamos com os palyers do mercado, pedimos ajuda e fomos ajudados, até que chegamos ao momento em que conseguimos convencer pessoas de que isto era possível e aí fechamos um pre-seed round. Despedimo-nos e viemos para Lisboa, começamos em Fevereiro. Arranjamos uma casa, tinha cozinha, que era coisa que dava jeito e montamos a empresa. Contratamos um chef que acreditamos que é a pessoa certa para o projeto e que também acreditou em nós e que criou as receitas e começamos a produzir e a vender logo, sem tecnologia, eramos nós que fazíamos tudo. Íamos às compras, testávamos as receitas e estregávamos. Nós fizemos questão de fazer todos os papéis antes de os entregar. Fizemos de tudo inicialmente, com o Rúben Couto a cozinhar em casa e nós a testar, a comprar os ingredientes e a entregar.

Depois durante um tempo estivemos na Uniplaces e depois entramos no Lisbon Challenge e aí andávamos entre casa e o Lisbon Challenge.

A fase inicial foi uma pesquisa muito grande de produção de receitas. É um desafio pegar em receitas, na lista de ingredientes e com o custo que nós podemos ter desenvolver comida interessante. Este foi também um desafio que também foi um desafio para o chef, porque uma coisa é fazer comida para comer na hora, no prato e outra coisa diferente é fazer comida para ser embalada, que vai ser transportada para ser consumida até duas horas.

Depois ganhamos o prémio Caixa Award do Lisbon Challenge e entretanto entramos para a Bright Pixel, tivemos o investimento da Sonae.

 

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Fotografia Andreia Trindade 

 

Como é que se pode ser vosso cliente?

É ira a www.eattasty.com, a pessoa regista-se, esse registo gera uma lead para nós onde se encontra identificado o nome da sua empresa e nós depois entramos em contacto. Neste momento.

Para conseguirmos que as pessoas comprem comida ao preço que compram com a qualidade que existe e para que seja entregue quente, nós temos de criar aqui alguns pressupostos. O primeiro pressuposto é que os cozinheiros têm de estar próximo dos clientes. Eu não posso entregar refeições no Parque das Nações se tenho os meus cozinheiros no Saldanha. Isto porque a comida não iria chegar quente e porque não permitiria praticar os mesmos preços, porque teríamos de ter uma logística muito ineficiente. Por exemplo a média de entrega de pizzas é de cerca de 3 a 4 refeições. Nós podemos entregar numa hora entre 20 a 30 refeições. Isso porque nós nos focamos na premissa do bairro, da proximidade entre os cozinheiros e clientes e isso obrigou-nos a tomar esta decisão numa fase inicial, que é vendemos em determinadas áreas, em determinadas localizações. Porque nós também nos inspiramos no Maple.com, que é um food delivery nos Estados Unidos, em que eles funcionam quase street by street. A razão que eles advogam é que se o problema é logística e a logística resolve-se encurtando distancias, (e ainda há a questão da entrega da comida quente), se estamos nesta rua nós apostamos nela até que toda a gente nos conheça. Daí termos termos mapeado as empresas onde decidimos abrir aos clientes, de acordo com as nossas rotas. Atualmente os clientes fazem o seu request individual na página e nós tomamos a decisão, nesta fase porque a nossa ideia é abrir para todos.

 

Quando é que perceberam que tinham de fasear esta entrada em produção?

Desde o início, porque tínhamos uma noção, embora não total, da complexidade do que queríamos montar. Não se gere uma frota de drivers sem um sistema de rotas, não se entrega 10, 20, 30 encomendas por hora em 2 dias e a comida tem de chegar quente. Por isso, desde o inicio que soubemos que tínhamos de fechar coisas. A tecnologia foi a primeira a ir para o lado.

 

Qual foi o vosso maior desafio até agora?

O maior desafio foi fazer receitas a baixo custo, com a qualidade que nós pretendíamos e conseguir que outra pessoa na sua própria casa a fizesse. Este era o maior desafio, este é o desafio do modelo todo. É possíveis pessoas fazerem as receitas que nós desenhamos, com a qualidade que nós queremos, em casa? Sim ou não? Se isto não acontecesse nós não poderíamos ter a visão de ter uma comunidade. E o que estamos a provar todos os dias é que são capazes.

Houve mais desafios e têm sido sempre diferentes, começando com desafios muito fortes operacionalmente, porque estamos a falar de um negócio com 3 partes: os drives, os cozinheiros e os clientes, o que exige um grande controlo da cadeia toda, mas que é baseado em parceiros. Quem entrega a comida não somos nós, quem entrega os ingredientes para a comida é o Continente, nós estamos ligados a eles. Tivemos que criar processos para que diariamente entreguem os ingredientes das nossas receitas. Tivemos de criar workflows de trabalho de maneira a que o nosso chef crie uma receita, essa receita crie uma encomenda, que gere uma encomenda que o continente veja, perceba e que consiga respeitar. Tivemos que fazer muita documentação para os cozinheiros, tivemos de respeitar os HACCP através de um meio digital. Os nossos cozinheiros fazem receção de mercadorias consoante os parâmetros do HACCP, mas em vez de ser feito em folhas como se faz em todo o lado é feito digitalmente. Eles têm campos que preenchem do HACCP.

 

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 Fotografia Andreia Trindade

 

Qual consideram ter sido o vosso maior sucesso, aquele momento em que acreditaram que isto vai mesmo para a frente.

O primeiro foi convencer pessoas a investir nisto. É uma validação, e foi um grande sucesso para todos. Foi no dia 24 de Dezembro, foi na véspera de Natal que fechamos isso. E sim, esse foi o nosso primeiro sucesso. O segundo sucesso foi encontrar uma pessoa que gastronomicamente consiga perceber isto e que seja um gastrónomo e alguém do mundo da comida mas que queira aprender este lado. Os chef por norma querem é trabalhar em restaurantes e nós encontrámos uma pessoa que tem muita experiência, com muito mundo e que nos ajuda a concretizar isto. Porque no final das contas o nosso produto é comida e conseguir alguém que valide isto em termos de comida é também um sinal de sucesso. Porque nós podemos ter os melhores grossistas, a melhor logística, a melhor app, os melhores drivers, se a comida não for boa o modelo não vai funcionar e essa foi também uma grande vitória.

Depois temos tido várias concretizações de passos que muitos duvidavam, como a integração com os grossitas. Temos cooks, drivers, clientes, alguns deles já encomendaram 70 vezes. Estes nossos clientes que já encomendaram 70 vezes, são nosso cliente há 4 meses. Ou seja, já temos clientes que comem quase todos os dias as nossas refeições e é isso que nós queremos. Convencer as pessoas que investem melhor o dinheiro connosco e que poupam connosco, mesmo que achem que 5,90€ não é tão barato, temos pessoas que fazem contas e que preferem comer a nossa comida. Nós queremos fazer parte da rotina das pessoas. O nosso desafio de serviço é esse. Nós estamos ativos desde o dia 23 de Março de 2016, vendendo por WhatsApp, a vender em 4 empresas conhecidas. Quando se fala em lançamento eu acho que o nosso lançamento ainda não existiu. O nosso lançamento enquanto marca a poder dizer, “Está aqui a EatTasty disfrutem!” ainda não foi formalizado. Mas ativamos o nosso negócio começando a vender as nossas refeições, foi no dia 23 de Março. Nós não queremos ser mais uma App de comida, seremos, porque nós acreditamos que esse é um caminho. Estamos a preparar a App para ficar ativa ainda no início de 2017, que ficará disponível para iOS e Android.

 

Conselho para quem queira começar uma startups?

O único conselho que eu posso dar mais é que é preciso querer muito. Porque vai tudo correr mal, vai tudo correr como não planeado, toda a gente vai comprar, toda a gente diz que é a melhor ideia do mundo, é possível convencer as pessoas, mas nunca nada é bem assim. É acreditar, não há hipótese. Porque a única forma de conseguir aguentar este boom de problemas é porque se quer e se acredita ou provavelmente os problemas vão ganhar.

 

O que é que vos motiva?

Motiva-nos o contexto atual de estar tudo a mudar e nós acreditamos que também podemos fazer parte dessa mudança. O fato do nosso negócio ser bonito. Nós estamos a falar em contratar pessoas, ensinar pessoas a fazer comida, a cozinharem na sua própria casa, pessoas de diferentes países. Isso motiva muito, porque nós queremos criar uma comunidade. Nós podermos olhar para a frente e vermos que temos 100 pessoas no escritório e 400 pessoas em casa a produzir, isso motiva muito. É mais do que o dinheiro é o fato do negócio ser assim, ser de comida, pessoas, pessoas a fazer comida em casa, famílias isso para nós é sermos quem somos. O conceito motiva-nos muito mesmo. Porque acreditamos que socialmente somos importantes.

 

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Fotografia Andreia Trindade 

 

Socialmente como é que se integram na comunidade?

Por exemplo, no Natal, durante uma semana todas as encomendas da EatTasty revertiam em 1 euro para comprar ingredientes. E nós posemos os nossos chefs e a nossa comunidade a cozinhar bolos para um evento da AMI em que essa parte foi comparticipada por nós.

Todos os desperdícios são dados à Re-food.

Este é um negócio social que é economicamente sustentável. O facto de poder gerar emprego, também nos faz contribuidores e nos move para ajudar a superar problemas sociais.

 

Quais são as vossas Apps e Start-Ups de referência:

Maple.com, que é um exemplo bom nos estados Unidos. Beepi, porque eles controlam o supllier e garantem que o carro que o cliente está a comprar em segunda mão está em condições, dão garantia. A Uniplaces, porque ao controlarem a fotografia, e garantia de qualidade. E a Uber e a Airbnb porque mudaram o mundo mudando hábitos, que é o que realmente queremos fazer também.

 

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Fotografia Andreia Trindade

 

EatTasty espero que mantenham o foco, o espirito e muito sucesso!